UFMG inicia esforço para reduzir em prazo curto consumo de energia elétrica
Universidade atende a determinações do governo federal enquanto segue com o Projeto Oásis, que reúne iniciativas no campo da eficiência energética
A UFMG tem um projeto permanente na linha da eficiência energética e iniciativas de curto a médio prazo no âmbito do Projeto Oásis. A essas iniciativas somam-se agora esforços concentrados da comunidade acadêmica para a redução mais urgente do consumo de eletricidade nos campi, como forma de contribuir para mitigar a crise hídrico-energética que atinge o país. O governo federal, por meio do Decreto 10.770, de 25 de agosto de 2021, recomendou medidas de contenção do consumo e a criação de uma comissão interna em cada um dos órgãos da União para assessorar seus dirigentes na empreitada.
O documento estabelece que a economia de energia elétrica seja feita, a princípio, “nos meses de setembro de 2021 a abril de 2022, em percentuais de 10% a 20% em relação à média do consumo do mesmo mês em 2018 e 2019”. Já instituída pela Universidade, a Comissão Interna de Conservação de Energia (Cice) vai atuar com o apoio de representes das unidades acadêmicas e administrativas.
A comissão trabalha com a expectativa de que o prazo da exigência de economia se estenda para além dos oito meses mencionados no decreto e de que as mudanças de gestão e de hábitos venham para ficar. “Assim como na crise de 2000-2001, quando a UFMG manteve as conquistas do esforço da comunidade, esperamos hoje que haja nova mudança de paradigma e que as baixas no consumo sejam duradouras”, afirma o engenheiro eletricista Felipe Coura, chefe da Divisão de Eficiência Energética do Departamento de Gestão Ambiental (DGA), vinculado à Pró-reitoria de Administração da UFMG, e presidente da Cice.
Peculiaridades
A interlocução com as unidades será crucial para o diagnóstico da situação de cada uma, incluindo, por exemplo, a avaliação da necessidade de instalação de lâmpadas mais eficientes e das possibilidades de alteração nos padrões de climatização. “Os administradores das unidades conhecem os diversos ambientes de seus prédios e as demandas de energia elétrica dos espaços, laboratórios e equipamentos importantes para a manutenção de pesquisas. Duas unidades podem ser muito diferentes entre si, será preciso olhar com cuidado para as peculiaridades”, afirma Coura.
A definição dos anos de 2018 e 2019 como referências deve-se justamente ao fato de que 2020 e 2021 são atípicos quanto à demanda por energia elétrica. A necessidade de resultados em prazo muito curto coincide com o estágio adiantado do processo de aprimoramento do sistema web de monitoramento do consumo na instituição. As novas ferramentas darão mais agilidade à geração e à análise dos relatórios mensais relativos às dezenas de prédios nos campi da UFMG.
“As perspectivas de redução do consumo de energia elétrica ficarão mais claras após o retorno gradual de estudantes, professores e técnicos que hoje estudam ou trabalham de casa”, diz Felipe Coura. Ele salienta que o sucesso do esforço pela redução está muito atrelado ao comprometimento de toda a comunidade acadêmica. “Será fundamental adotar hábitos como desligar lâmpadas e aparelhos de ar-condicionado quando não forem necessários e usar as escadas em vez de elevadores, quando possível”, exemplifica o engenheiro.
Criada pela Portaria 6.395, de 1º de setembro deste ano, a Cice atua de forma articulada com a Comissão Permanente de Gestão Energética, Hídrica e Ambiental (CPGEHA) da UFMG, instituída em 2019 e presidida pelo professor Braz Cardoso Filho. Junto com Felipe Coura, compõem o novo colegiado Caio Augusto Ribeiro Moreira, mestre de edificações e infraestrutura do DGA, André Gonçalves de Oliveira, técnico de laboratório do Departamento de Manutenção e Operação da Infraestrutura (Demai), Julie Correia Miranda, técnica em eletricidade do Demai, e Helder Gattoni Medeiros, engenheiro do Departamento de Planejamento e Projetos.
Usinas e microturbinas
Um dos eixos que orientam o planejamento do Projeto Oásis é o da eficientização dos prédios da UFMG. O processo começou pelo campus Pampulha, em um projeto-piloto, e toda a Universidade será beneficiada no futuro. O objetivo é preparar os prédios para a obtenção do selo Procel (de eficiência energética) para edificações. A troca de lâmpadas fluorescentes pelas de led, iniciada antes da implantação do Oásis, foi incorporada pelo projeto. Vias públicas e edifícios vão ganhar iluminação nova e otimizada, por meio, por exemplo, da separação de circuitos para o aproveitamento máximo da luz natural. Soluções arquitetônicas também estão no radar, mas dependem de recursos financeiros ainda não disponíveis.
Usinas fotovoltaicas instaladas nas coberturas dos três Centros de Atividades Didáticas (CADs) do campus Pampulha vão gerar, juntas, dentro de alguns meses, pouco mais de 500 kWp (quilowatt pico, que corresponde, no caso, à geração em capacidade máxima pelas placas solares). Os três prédios passarão a ser autossuficientes, e sobrará energia para o abastecimento de outras edificações.
A meta inicial do Projeto Oásis, conta o professor Braz Cardoso Filho, presidente da CPGEHA, é gerar localmente cerca de 15% da energia consumida no campus Pampulha até a virada de 2022 para 2023. Mas esse objetivo pode ser redimensionado de acordo com o aporte de recursos à UFMG.
Outra parcela de 15% de redução dos custos será consequência da migração de algumas unidades acadêmicas e administrativas para o mercado livre de energia e do ajuste de contratos. Na opção pelo mercado livre, a Universidade comprará energia de fontes incentivadas, como a eólica e a fotovoltaica, que têm custo final mais baixo e ajudam a diminuir a pressão sobre as fontes hidráulicas em período de grave crise hídrica no Brasil.
Microturbinas a gás são mais um recurso capaz de elevar a geração própria de energia. O Centro de Treinamento Esportivo (CTE) receberá o seu conjunto em alguns meses: as microturbinas vão substituir um equipamento queimador de gás e farão o aquecimento da água da piscina olímpica local aproveitando o calor gerado com a combustão do gás para a geração de energia. O novo aparato tem taxa de eficiência próxima de 90%, frente aos 40% do queimador de gás que opera hoje no CTE.
Diagnóstico e soluções para as Ifes
A preocupação com a eficiência energética que move uma série de medidas e ações na UFMG ganhou, recentemente, caráter nacional. Representantes de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) de todas as regiões integram, há cerca de dois meses, um grupo de trabalho encarregado de produzir um diagnóstico da situação global e propor soluções que, contratadas em maior escala por conjuntos de instituições, gerariam custo menor para cada uma das Ifes.
O grupo foi formado pela Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, atendendo a determinação do Tribunal de Contas da União. As reuniões e o esforço de levantamento de informações têm a participação do pró-reitor de Planejamento da UFMG, Mauricio Freire.
“Estamos reunindo experiências e boas práticas nas universidades e institutos federais para a elaboração de propostas que gerem melhorias na gestão da energia e economia de recursos públicos”, afirma Freire. “Também consideramos a heterogeneidade do sistema das Ifes. Algumas, como a UFMG, estão mais adiantadas no que se refere a medidas para maior eficiência, e em certas regiões a insolação é maior, o que torna o uso da energia solar mais viável. Há diferenças de várias naturezas."
Os trabalhos do grupo seguem até novembro.