Mais de 60 mil atendimentos psicológicos on-line serão realizados nos próximos três anos em todo o Brasil por meio do projeto Escuta Susp, lançado nesta terça, dia 28, pela Secretaria Nacional de Segurança Pública e pela UFMG, no Palácio da Justiça, em Brasília. O público-alvo são policiais civis e militares, bombeiros e profissionais dos institutos oficiais de perícia criminal que enfrentam situações de sofrimento psicológico e ainda não recebem acompanhamento especializado. A parceria foi formalizada pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e pelo secretário nacional de Segurança Pública, Mario Luiz Sarrubbo. 

Uma das justificativas do projeto é que a natureza do trabalho desses profissionais envolve alto nível de estresse e pressão, com sobrecarga física e emocional decorrentes dos riscos psicossociais das atividades desempenhadas. Tais condições favorecem a maior prevalência de adoecimentos físicos e mentais em comparação à população em geral, que resultam em quadros de sofrimento psíquico, doenças psicossomáticas, depressão, estresse pós-traumático, dependência química e suicídios – segundo levantamento do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (Ippes), ao menos 509 profissionais de segurança pública ativos se suicidaram no Brasil, entre 2018 e 2022.

Os serviços oferecidos pelo Escuta Susp incluem avaliação e aconselhamento dos profissionais em até cinco sessões, eventual encaminhamento para cerca de 20 sessões de psicoterapia, a depender da situação observada, e serviço de promoção à vida, quando for identificado comportamento suicida, com foco na estabilização da crise.

A reitora Sandra Goulart Almeida destacou a importância de a UFMG estar próxima do poder público, construindo ações e políticas para cumprir sua missão de atender as demandas da sociedade. Nesse sentido, a parceria com o governo federal que viabiliza o projeto Escuta Susp é mais uma frente de atuação. "É fundamental cuidar de nossos profissionais de segurança. Eles estão encarregados de proteger a sociedade e, para exercer essa nobre missão, precisam estar bem consigo mesmos e com a saúde mental preservada. A UFMG tem experiência nesse campo, desenvolve ações robustas com a sua comunidade e, certamente, tem muito a colaborar com o Ministério da Justiça”, afirma a reitora.

Início dos trabalhos
Na primeira etapa das atividades, com início ainda neste mês de maio, serão realizados atendimentos on-line nos estados de Minas Gerais, Sergipe e Rio Grande do Norte, além do Distrito Federal, com ampliação dos serviços nessas localidades prevista a partir do mês de agosto, envolvendo cerca de 45 terapeutas. A partir de janeiro de 2025, o projeto será ampliado para todo o país. Os psicólogos são capacitados para lidar com a realidade e o repertório dos profissionais de segurança pública, com imersão em seu cotidiano por meio de visitas programadas às unidades onde eles trabalham, rodas de conversa e palestras.

“Vamos oferecer cursos, lives e atendimento em grupo para promoção do bem-estar e da qualidade de vida para os profissionais. Também desenvolveremos vídeos educativos sobre autocuidado, meditação, manejo de raiva, visando à melhora da  saúde emocional desses profissionais”, acrescenta o coordenador do projeto, Maycoln Teodoro, professor do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).

Plataforma
As consultas online serão realizadas por meio de plataforma informatizada desenvolvida no Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas (HC-UFMG), que  permitirá inscrição, marcação, acompanhamento, registro por meio do prontuário eletrônico e atendimento aos profissionais de segurança pública.

“Nosso time de desenvolvedores está trabalhando para criar uma plataforma robusta, segura e fácil de usar, implementando funcionalidades avançadas de sessões de terapia por videochamada e um sistema intuitivo de agendamento de consultas. Além da implementação rigorosa de medidas de segurança e privacidade para assegurar que as informações pessoais e as consultas realizadas na plataforma sejam totalmente confidenciais”, afirma Danielle Resende de Pádua, gestora de projetos de tecnologia da informação do Centro de Telessaúde do HC-UFMG.
A UFMG é a responsável pela coordenação do Escuta Susp, fruto do Termo de Execução Descentralizada (TED) 07/2023, celebrado com a Senasp, no valor de R$ 6,4 milhões. A execução do projeto também inclui a Universidade de Brasília (UnB) e as universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e de Sergipe (UFS).