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Degradação ambiental favorece surgimento de pandemias

'Outra estação', da Rádio UFMG Educativa, explica como o desmatamento e a mineração quebram o equilíbrio do planeta e colocam em risco a própria espécie humana

Fotografia aérea de uma pequena parte da Amazônia brasileira próxima a Manaus, Amazonas
Fotografia aérea de um trecho da Amazônia brasileira próximo a Manaus, no estado do Amazonas Neil Palmer/CIAT I Flickr I CC BY-SA 2.0

Todos os anos, segundo a ONU, aproximadamente dois milhões de pessoas morrem de doenças zoonóticas, que são aquelas transmitidas de animais para humanos. A covid-19, doença que, segundo as evidências científicas mais aceitas até o momento, teria se originado da contaminação por morcegos, é a preocupação do momento, mas outras zoonoses já ocuparam seu espaço. É o caso do ebola, da dengue, da zika e da aids.

Mas até que ponto a crise sanitária que estamos vivendo é resultado das ações humanas sobre o meio ambiente? E quais as consequências da pandemia e do isolamento social sobre a saúde do planeta? O mundo pós-coronavírus vai inaugurar uma nova forma de lidar com nossos recursos naturais? Essas são algumas das questões discutidas no episódio 51 do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa.

Para discutir essas questões, foram entrevistados os professores Marcus Vinícius Polignano, da Faculdade de Medicina, coordenador do Projeto Manuelzão, Fabrício Rodrigues dos Santos, da área de genética e evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Giliane de Souza Trindade, do Departamento de Microbiologia do ICB, e Leila da Costa Ferreira, professora de sociologia ambiental da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora associada do Núcleo de Estudos de Pesquisas Ambientais


Ecossistemas interligados

“A pandemia sinaliza o fio da navalha que a humanidade está vivendo. Estamos provocando tanto dano ambiental que a nossa própria sobrevivência neste planeta está cada vez mais em jogo. Não é o planeta que depende da gente, é a gente que depende do planeta.” (Marcus Vinicius Polignano)

O epicentro inicial da covid-19 foi a China, mais precisamente um mercado na cidade de Wuhan, que comercializava animais selvagens. Cientistas já descobriram fortes indícios de que os morcegos vendidos no local seriam os vetores do novo coronavírus. Mas como esses vírus passaram a infectar humanos? O primeiro bloco do programa explica como atividades como a caça, a mineração e o desmatamento propiciam o contato de diferentes vírus de origem animal com a espécie humana e, consequentemente, desencadeiam a eclosão de epidemias.

O programa aborda também a situação do Brasil, considerado um dos locais mais propícios para o surgimento de novas doenças de origem animal. De acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento da região no mês de abril foi o maior dos últimos dez anos, com 529 quilômetros quadrados de floresta derrubada. Fundos de investimentos e empresas brasileiras e estrangeiras têm criticado os retrocessos na nossa política ambiental, já que a forma como o Brasil gerencia a questão pode afetar todo o planeta.

“Se o mosquito não tem o que chupar, porque a floresta foi embora, vai chupar o sangue de gente. E tem milhares de espécies de mosquito. É preciso manter a dinâmica ecológica de cada um dos biomas. Isso não é nenhuma novidade. Não é com o coronavírus, estamos falando disso há décadas”. (Fabrício Rodrigues dos Santos)
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Fabrício Rodrigues Santos: "é preciso respeitar a natureza".Arquivo pessoal


As lições do coronavírus
No ritmo atual de degradação do planeta, pandemias podem se tornar cada vez mais comuns. Mas o que pode ser feito? A resposta para essa questão pode estar em mudanças no estilo de vida, e o próprio coronavírus, a um alto custo, tem-nos mostrado isso. Com o isolamento social adotado para conter a pandemia, a emissão de CO2 na atmosfera diminuiu. O céu pôde ser visto, em todo o planeta, sem as costumeiras nuvens de poluição. Por outro lado, cresceu o consumo de plástico e de lixo hospitalar.

No segundo bloco, os especialistas entrevistados pelo programa discutem as lições que o coronavírus pode deixar para o meio ambiente, o que está (ou não) sendo feito no mundo para reduzir as emissões de gases que causam as mudanças climáticas e analisam a política ambiental brasileira.

“A gente não pode olhar para a espécie humana e achar que ela está desvinculada do seu ambiente e das outras espécies animais com as quais divide esse ambiente. A prova disso é essa pandemia: um vírus emergiu numa região geográfica do globo e se espalhou pelo planeta inteiro. Políticas de conservação têm que ser tomadas como políticas de saúde pública.” (Giliane de Souza Trindade)


Para saber mais

Palestra do professor Fabrício Santos sobre natureza e epidemias no Darwin Day

Política ambiental do governo Bolsonaro afasta investidores internacionais: em entrevista à Rádio UFMG Educativa, pesquisador da UFMG apresenta consequências da agenda ambiental do governo federal na economia e nas relações exteriores do país

Estudo mostra 96,2% de semelhança entre o novo coronavírus e o vírus do morcego-ferradura

Abril registra recorde de desmatamento na Amazônia nos últimos dez anos, mostra sistema de monitoramento do Imazon

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Site do Projeto Viroma Global

Relatório da ONU Prevenir a próxima pandemia: doenças zoonóticas e como quebrar a cadeia de transmissão

Estudo sobre consumo de plástico na Europa e nos Estados Unidos

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lista seis fatos sobre coronavírus e meio ambiente

Coronavírus: "As máscaras que você joga fora podem acabar matando uma baleia" - Reportagem da BBC Brasil

Queda nas emissões devido à pandemia não vai interromper mudanças climáticas, diz ONU

Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima

Produção
O episódio 51 do programa Outra estação é apresentado por Breno Benevides. A produção é de Breno Benevides e Camila Meira. A edição é de Paula Alkmim, coordenadora de jornalismo, e os trabalhos técnicos, de Breno Rodrigues.

Outra estação aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.