Pesquisa e Inovação

Observatório na Faculdade de Direito estuda violência contra a população LGBT+

Objetivo é gerar dados para subsidiar a elaboração de políticas públicas destinadas a essa comunidade

Intimidação psicológica, agressão física, tortura, assassinato, agressão sexual e diversas outras formas de violência são mapeadas pelo Observatório de Violências contra Pessoas LGBT, programa vinculado à Faculdade de Direito da UFMG que produz dados sobre violência e discriminação LGBTfóbicas contra pessoas maiores de idade que moram em Belo Horizonte ou na região metropolitana.

Segundo Samantha Nagle, uma das coordenadoras do Observatório, a coleta de dados primários começou em 2016 por meio de aplicação de questionários nas paradas do Orgulho LGBT em Belo Horizonte. “Nosso objetivo com essa pesquisa é produzir dados confiáveis sobre violência e discriminação contra pessoas LGBT+, de forma a possibilitar um debate público baseado em evidências que possam auxiliar na formulação de políticas públicas adequadas a essa população”, afirma. 

O estudante Vitor Silva, de 22 anos, já foi alvo de violência verbal por conta de sua orientação sexual. "Eu estava indo encontrar um amigo, e dois homens me assediaram porque estava com uma roupa dita feminina. Eu não dei atenção para eles, continuei seguindo, mas eles vieram atrás de mim, me ofendendo, me chamando de 'traveco', de bichinha, dizendo que eu queria ser mulher, e muitas outras falas. Eles me fizeram lembrar de outras pessoas que me agrediram verbalmente ao longo da minha vida, até mesmo dos meus irmãos, que, quando eram crianças, me batiam ou me chamavam de veado”, relata.

Negação estrutural de direitos
O Brasil ocupa uma posição nada lisonjeira no cenário global da violência contra pessoas LGBT+. Somente entre 2015 e 2017, mais de 24 mil episódios de violências contra pessoas com 10 anos de idade ou mais foram notificados no país. “Tudo isso nos demonstra que existe uma situação de negação estrutural de direitos dessas pessoas pelo simples fato de se afastarem do que é tido como 'normal' do ponto de vista do gênero, da sexualidade e da corporalidade", diz Samantha Nagle. "Pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, não binárias, entre outras identidades, são indivíduos que colocam em xeque as expectativas sociais que temos sobre o comportamento e as práticas sexuais e sobre o corpo que nós teoricamente deveríamos ter.” 

Segundo ela, o extermínio de pessoas LGBT+, em especial de pessoas trans e travestis, é o ápice de um conjunto de situações de privação impostas a quem se afasta do padrão cis-heteronormativo. “Está estabelecido um modelo ideal de ser humano que serve fundamentalmente para manter todas as outras pessoas que não se encaixam nele em uma situação de inferioridade social e política", analisa a coordenadora do estudo. 

O anonimato é garantido em todas as etapas da pesquisa. Interessados em participar do estudo podem preencher este questionário

Equipe: Miryam Cruz e Daniel Mendes (produção e reportagem); Otávio Zonatto (edição de imagens) e Ruleandson do Carmo (edição de conteúdo)