Pesquisa e Inovação

Grupo do ICB desenvolve estratégia pré-clínica para testes que buscam drogas contra a covid-19

Estudo mostrou redução das lesões provocadas por coronavírus no pulmão de camundongos

Primeira imagem a mostrar anticorpos (na cor verde) neutralizando o vírus Sars-CoV-2 (na cor cinza) foi produzida por cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos
Primeira imagem a mostrar anticorpos (na cor verde) neutralizando o vírus Sars-CoV-2 (na cor cinza) foi produzida por cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos Christopher Barnes | Laboratório Björkman

Pesquisadores do ICB conseguiram bloquear o avanço da ação de um betacoronavírus – vírus semelhante ao Sars-CoV-2 – nos pulmões de camundongos, com o uso de um fármaco que atua inibindo o TNF, um dos principais mediadores da resposta inflamatória. No estudo, o inibidor de TNF conhecido como Etanercept foi administrado em camundongos infectados com o coronavírus MVH, que atinge naturalmente roedores e pode desencadear alterações respiratórias e sistêmicas semelhantes àquelas encontradas em pacientes com a covid-19 grave. Além disso, os pesquisadores também utilizaram animais geneticamente modificados e que não tinham o receptor de TNF.

“Já foi demonstrado em pesquisas recentes que pacientes graves de covid-19 têm níveis de TNF aumentados. O nosso estudo mostra, de forma inédita, a possibilidade de bloquear esse mediador inflamatório e, assim, diminuir os danos causados pela infecção por coronavírus”, diz a professora Vivian Vasconcelos Costa, do Departamento de Morfologia do ICB, que coordena o estudo juntamente com o professor Mauro Martins Teixeira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da mesma unidade.

Vivian Costa explica que a ideia de estudar uma espécie de coronavírus que infecta camundongos se deve ao menor grau de segurança exigido para que um laboratório abrigue esse tipo de estudo. “Caracterizamos um modelo que causa uma lesão pulmonar e gera alterações respiratórias e sistêmicas em camundongos. A partir daí, começamos a estudar as moléculas que poderiam contribuir com a indução das alterações observadas”, explica a professora.

Durante a investigação, o grupo realizou testes com dois grupos de camundongos: um apresentava a molécula de interesse, e o outro não. A intenção foi comparar os níveis de gravidade da doença, após a infecção. Os pesquisadores também utilizaram uma estratégia farmacológica, bloqueando essa molécula com medicamentos. “Utilizamos o Etanercept, medicamento que já existe no mercado e é aplicado no tratamento da artrite. Também tentamos identificar novas moléculas para descobrir outros processos terapêuticos”, diz a professora.

Ao comparar os grupos de camundongos, os pesquisadores perceberam que aqueles que não tinham o receptor da molécula de TNF estavam mais protegidos do vírus que se assemelha ao Sars-CoV-2. Os camundongos que portavam a molécula foram então tratados com o fármaco para artrite e melhoraram. Os resultados indicam, segundo Vivian Costa, que “essa molécula com a qual trabalhamos é importante no agravamento da covid-19. Assim, para saber se o bloqueio da molécula TNF evitaria a piora dos doentes, são necessários estudos clínicos mais aprofundados em humanos."

Costa: estudo sugere que uso de modelo desenvolvido por pesquisadores pode ser uma estratégia pré-clínica importante para os testes que buscam drogas capazes de combater o coronavírus
Vivian Costa: bloqueio de inflamaçãoArquivo pessoal


Resultado idêntico
Após os estudos com os camundongos, conta a professora, o trabalho foi finalizado com células humanas do epitélio pulmonar. Elas foram infectadas com o Sars-CoV-2 e tratadas com os mesmos inibidores que haviam se mostrado capazes de inibir o TNF em camundongos. “Observamos os mesmos efeitos dos testes em animais. Isso sugere que usar o modelo que desenvolvemos pode ser uma estratégia pré-clínica importante para os testes que buscam drogas capazes de combater a covid-19.”

Biossegurança
A próxima etapa da pesquisa visa trazer mais respostas sobre a ação do Sars-CoV-2 em humanos. Para atender aos requisitos de biossegurança exigidos, os pesquisadores contam com a inauguração do Laboratório de Biossegurança NB3 do ICB, que adota padrões de segurança para lidar com patógenos de risco biológico da classe 3. “Esse laboratório é essencial para a Universidade. Há muitos projetos que necessitam dele para a evolução das pesquisas. Além disso, dispor de um local com maior nível de biossegurança abre perspectivas para projetos com outros patógenos, o que pode nos ajudar a evitar futuras epidemias”, conclui Vivian Costa.

Luana Macieira