Mesa com acadêmicos e lideranças inaugura seminário sobre direitos indígenas
Participantes ressaltaram a necessidade de promover a inclusão dos povos originários e de transformar a relação do ser humano com a natureza
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Na tarde desta segunda-feira (22), professores e gestores acadêmicos, ativistas e líderes de comunidades indígenas estiveram reunidos na mesa que abriu o seminário Direitos indígenas: diálogos em tempos de retomada democrática, no auditório da Reitoria. O evento foi precedido por um ritual no jardim em frente ao prédio.
A pró-reitora de Assuntos Estudantis, Licínia Correa, afirmou que é preciso levar em conta todas as potencialidades dos estudantes indígenas — cuja presença tem muito a acrescentar à Universidade. Em seguida, apresentou trechos do pronunciamento feito pela assessora do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Samara Pataxó durante a programação do Abril indígena, sediado na UFMG há um mês: “Em todos os países, os impactos da crise climática e ambiental, associados aos efeitos da maior pandemia da história, geram montantes assombrosos de mortes e novas hordas de excluídos e flagelados. A fome, o desemprego, o racismo, a LGBTfobia e o machismo colocam milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade extrema. É possível vivermos e convivermos de outra forma, com outras epistemes, a partir de cosmologias ancestrais. Cuidar da Mãe-Terra é, no fundo, cuidar de nossos próprios corpos e espíritos.”
As atividades do seminário resultarão em propostas e ideias inovadoras, projetou a coordenadora do Colegiado Especial de Vagas Indígenas, Andréa Carvalho. “O diploma, para o estudante indígena, é muito importante — desde que esse estudante saia inteiro da universidade”, disse, citando uma das estudantes indígenas da UFMG. “Que o evento, com nossas muitas mentes reflorestando os pensamentos, possa trilhar na construção de direitos e de maneiras de transformação do espaço.”
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Uma folha no mundo acadêmico
Com base na premissa de que os povos indígenas têm como essência a adoração e a relação orgânica com a natureza, o professor Marcos Scarassatti, que coordena o colegiado da Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), sublinhou que, “quando esse saber e esse modo de vida entram na universidade, existe a possibilidade de nascer mais uma folha no mundo acadêmico e na sociedade”.
“Passamos muito tempo resistindo ao fascismo e ao racismo no Brasil e agora vemos a possibilidade de outras folhas nascerem. Que a gente não deixe de regá-las, dia a dia”, metaforizou.
Aluno da Faculdade de Direito e representante do Coletivo de Estudantes Indígenas de Vagas Suplementares, Edmar Xakriabá salientou que as barreiras e os desafios enfrentados pelos indígenas variam de acordo com o contexto específico de cada comunidade, que pode, por exemplo, ser muito distante ou dispor de infraestrutura muito precária. “Limitações quanto ao transporte ou ao acesso à internet podem dificultar o acesso e a participação dos indígenas nos programas da universidade”, exemplificou.
O líder indígena Adalto Pataxó destacou que o ingresso dos estudantes indígenas na academia “é fruto de muitas caminhadas que nossos ancestrais fizeram”. “Não estamos aqui por acaso. É muito importante que vocês busquem vários conhecimentos, para que nossa história se fortaleça”, conclamou.
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Para Werymehe Pataxoop, que atua no gabinete da deputada federal Célia Xakriabá, a prevalência e a articulação dos indígenas nas universidades é fundamental para a defesa de seus próprios direitos. “A gente entende que a universidade nunca mais será a mesma sem a presença dos povos indígenas, quilombolas e do campo”, completou.
Compromisso
Liderança estudantil no Fiei, Ahnã Pataxó afirmou que os acadêmicos oriundos de comunidades indígenas têm um compromisso muito significativo com seu povo. “Representamos nosso povo e temos que levar o conhecimento científico de volta para nossas comunidades, onde a maioria das pessoas nunca teve a oportunidade de sentar numa cadeira de universidade”, ela disse.
O líder indígena Valdemar Xakriabá, que é doutor em Notório Saber pela Faculdade de Educação, discorreu sobre a ganância que tem destruído as relações no planeta. “Eu não preferiria ter dinheiro no meu bolso e não ter amigos. Não queria ser bem de vida e não ter amizade. O dinheiro que a gente tem não deve ser usado para fazer mal a ninguém, mas, sim, para cuidar de quem é necessitado”, disse.
A mediação do debate ficou por conta da estudante Aline Taukane, membro do Coletivo Estudantil Indígena das Vagas Suplementares.
A programação do seminário segue até a sexta-feira, 26. O evento é promovido pelas pró-reitorias de Assuntos Estudantis (Prae), de Cultura (Procult) e de Graduação (Prograd), pelo Colegiado da Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), pelo Colegiado Especial de Vagas Suplementares para Estudantes Indígenas e pelo Coletivo de Estudantes Indígenas da UFMG.
Atualizações sobre o evento são publicadas no perfil da Prae no Instagram.
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Foto: Raphaella Dias | UFMG
Ritual de abertura
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