Saúde

Pesquisadores da UFMG alertam sobre impactos à saúde física na pandemia

Implementação do modelo remoto afeta o bem-estar de trabalhadores e estudantes

Há um ano e quatro meses, a pandemia de covid-19 impôs mudanças drásticas à rotina das pessoas ao redor do mundo. Tais alterações e o contexto que as envolvem trouxeram impactos adversos à saúde física de muitos estudantes e trabalhadores, que passaram a exercer suas atividades no modelo remoto.

A migração para o chamado home office desencadeou sintomas físicos, como dores de cabeça, no pescoço, nas costas e perda de sono, têm sido frequentemente percebidos. Uma pesquisa realizada pela Universidade do Sul da Califórnia apontou que cerca de 64% das pessoas entrevistadas tiveram problemas físicos provocados pelo mau planejamento das atividades remotas.

Corpo e ergonomia

Nesse sentido, realizar as tarefas do trabalho em casa e conciliá-las com estudos e momentos de lazer em um mesmo ambiente parece exaustivo e desafiador. Por isso, é importante manter uma rotina organizada e que aproveite todos os espaços da casa. Além disso, fazer pausas durante o período de trabalho ou estudo é essencial para uma rotina saudável.

Associado à otimização da rotina, o professor do Departamento de Esportes da EEFFTO/UFMG Rodrigo Diniz recomenda separar um tempo determinado para a realização de atividades físicas, até mesmo no próprio ambiente doméstico, com um certo nível de sistematização e regularidade. Se possível, deve-se buscar acompanhamento de um profissional especializado.

Em relação ao ambiente em que se trabalha ou se estuda, a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social Ada Ávila salienta que é importante estar vigilante quanto à postura corporal em relação a componentes como o monitor, o teclado e o mouse. Ela alerta também sobre as fontes de entrada de luz no ambiente do home office, para evitar reflexos nas telas de celulares, tablets, monitores de computador/notebook.

Alimentação

Muitas pessoas têm evitado ou não têm tido tempo de preparar seus alimentos durante o dia, então recorrer a pedidos de refeições por aplicativos de entrega e afins têm sido uma ação frequente. Por esses meios, a oferta de alimentos não-saudáveis e ultraprocessados é recorrente e facilita a preferência por uma má alimentação, como indica uma pesquisa realizada no Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG, no ano de 2020.

O consumo constante desses alimentos, principalmente quando somado à tendência do sedentarismo  são os principais responsáveis por doenças como obesidade, hipertensão e diabetes, fatores que aumentam a letalidade da covid-19. Por isso, é importante que hábitos de alimentação saudáveis sejam incluídos na rotina diária. 

De acordo com a professora do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG Aline Lopes, a alimentação deve ser pensada e elaborada por uma única pessoa ou de forma coletiva entre os familiares. O caminho para conseguir criar e manter essa rotina é pensar nos alimentos a serem consumidos desde a organização da lista para a feira. Entre as estratégias para uma alimentação mais saudável feita em casa, está a redução das idas ao supermercado, a fixação de horários para as refeições, a realização coletiva das principais refeições, como almoço e jantar, promovendo o contato social daqueles que moram no mesmo espaço. 

Descansos, pausas e sono

A falta de rotina de trabalho e alimentação interferem também nos momentos de descanso e sono. Durante o dia, na modalidade de trabalho remoto, é normal que as pessoas se esqueçam de fazer pausas, seja para comer, realizar atividades domésticas ou até mesmo se exercitar. Nesse contexto, a falta de pausas sobrecarrega a mente, assim como interfere em funções motoras, prejudicando o funcionamento do organismo de forma geral. 

As atividades realizadas em modalidade remota são dependentes  ao uso de aparelhos tecnológicos, como computadores, tablets e celulares, além de serem práticas intelectuais e que aceleram o cansaço mental, seja pelo excesso de racionalização ou pela luminosidade promovida pelas telas, que dificultam o sono noturno. Dormir é uma necessidade fisiológica que contribui para que o corpo “limpe” o acúmulo de atividades e reinicie certos mecanismos. Quando o sono não é completado de forma correta, o resultado é muito prejudicial para o corpo. 

A rotina também é importante para a manutenção de um sono de qualidade. Estabelecer momentos de pausas durante o trabalho, assim como promover movimentações do corpo em momentos diversos do dia, pode diminuir o cansaço mental. A professora e pesquisadora do Centro de Estudos em Psicologia e Exercício da EEFFTO/UFMG Andressa Silva afirma que além de estabelecer uma rotina, é importante que seja colocado nela momentos de exercício a luz do sol, pois eles incentivam e facilitam um bom sono noturno.

Equipe: Daniel Mendes (produção); Márcia Botelho (edição de imagens); Eduardo Crivellari (videografismo); Ruleandson Do Carmo (edição de conteúdo)