Conectando corpo, mente e meio ambiente, 'Domingo no campus' une gerações
Em sua 20ª edição, evento reuniu mais de 1 mil pessoas na Pampulha
As sonoridades do berimbau, do atabaque e do canto de matriz africana ecoavam já na entrada principal do campus Pampulha, na manhã deste domingo, dia 4, anunciando um percurso rico em experiências geradoras de “conexões” entre o corpo, o intelecto e o ambiente.
“A capoeira nos ensina que a razão e a emoção andam juntas: podemos desenvolver o intelecto e o corpo ao mesmo tempo”, discorreu a pesquisadora de cultura quilombola Aline Neves, durante a Roda de capoeira e educação antirracista, que integrou a programação da 20ª edição do Domingo no campus.
Fundadora do Grupo de Trabalho Geografias em perspectivas negras, Aline informou que os quilombos, diferentemente do que se costuma pensar, não eram integrados exclusivamente por pessoas pretas. “Havia brancos e indígenas também. É uma cultura que mistura, agrega e é muito sábia. A despeito da legislação que coibia as rodas de capoeira, eles se encontravam e perpetuavam sua cultura”, disse.
O evento na UFMG foi alusivo ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho. Para a pró-reitora de Extensão, Cláudia Mayorga, essa agenda tem grande potencial de conectar várias questões, como o enfrentamento a incêndios, a luta antirracista, e a promoção da saúde. “Afasta-se, assim, o estereótipo segundo o qual o meio ambiente seria um conceito distante do nosso cotidiano. É papel da universidade unir as discussões sobre lazer, educação ambiental e conscientização para a vida”, argumentou.
No saguão da Reitoria, onde acompanhava a abertura da exposição Culturas de resistência – substratos transformadores, a reitora Sandra Goulart Almeida também estabeleceu uma conexão entre os vários eventos promovidos pela UFMG neste domingo. “É uma data muito especial, que antecede o Dia do Meio Ambiente. Começamos agora cedo, com o próprio Domingo no campus, com essa exposição muito bonita, que trata da luta dos povos originários e das culturas de resistência, e mais tarde haverá a abertura do seminário de reitores da AUGM sobre sociedade e Estado e o congresso de sustentabilidade”, enumerou a reitora. “Em comum, esses eventos, cada qual a seu modo, estimulam a reflexão sobre o meio ambiente e fortalecem a interação da universidade com a sociedade”, destacou.
Ninguém em Júpiter
Egresso do curso de Ciência da Computação, Márcio Drummond apresentava o campus às suas filhas gêmeas, Manuela e Isabela, de 9 anos. “Uma das coisas mais importantes que a Universidade pode fazer é se aproximar da comunidade. Este é um centro de excelência, que precisa ser exposto para todos. Isso faz as pessoas quererem conhecer e ingressar na UFMG”, disse.
As duas crianças participavam da Oficina de astronomia, sob a tutela do estudante de Física Lessandro Graziane. A ocasião, segundo Lessandro, era oportunidade para que elas conhecessem a Física de uma maneira fácil e divertida.
“Em Vênus faz mais calor porque lá tem muitos gases quentes”, informou Manuela, enquanto desenhava em uma folha os planetas do Sistema Solar. “Em Júpiter é mais frio, tenho certeza de que não tem ninguém morando lá”, completou a irmã, Isabela.
Por sinal, a “invasão” do campus universitário pelos pequenos é, para o pós-doutorando Túlio de Paula, da Faculdade de Educação, a face mais especial do evento. Túlio é um dos organizadores da Oficina de forró Picaderró, que ocorre semanalmente na Praça de Serviços e também no campus Saúde, mas debutava no Domingo no campus.
"A ideia é popularizar a dança, para todos que quiserem aprender. Orientamos as pessoas a dançar com o máximo de gente diferente, inclusive os desconhecidos. Estou adorando, especialmente, a ‘invasão’ das crianças e a sensação de que elas estão realmente à vontade”, completou.
Além do boneco Bob, paramentado com todos os itens e equipamentos de proteção dos brigadistas de incêndios florestais, as crianças também roubavam a cena na oficina que abordava o tema.
“Elas têm muita curiosidade em entender como funcionam as ferramentas. Então, a gente apresenta os equipamentos e faz uma pequena simulação de combate”, contou Maíz d’Assumpção, integrante da Brigada 1, que atua voluntariamente na Estação Ecológica. “O Bob é o nosso chamariz. As pessoas ficam curiosas porque ele, à primeira vista, parece uma pessoa de verdade”, acrescenta.
Evento multigeracional
Na Praça de Serviços, Armênio Manoel Moreira, de 86 anos, tomava banho de sol e relaxava ao som da música ambiente na companhia de sua nora Luciana Ribeiro, ex-funcionária da Fundep. “Estamos encantados com o movimento e a participação de pessoas de todos os tipos”, comentou Luciana.
A família Coelho veio completa para o evento, incluindo os cachorros Burpee e Skipping. “Até então, não tínhamos o hábito de frequentar o campus; muita gente nem sabe que é aberto. A abertura para a população cumpre a função de atender ao interesse da sociedade de uma maneira que vai além do ensino”, opinou Flávia.
Aspirantes a universitárias, as primas Aysha da Luz e Emanuelle Cristine prestigiaram o evento pela primeira vez. “Praticamente todos da nossa família foram alunos da UFMG, e eu pretendo também”, contou Aysha, a mais velha. “No ano que vem, pretendo entrar no Cefet”, disse Emanuelle, estudante do Equalizar, cursinho preparatório que funciona na Escola de Engenharia.
A TV UFMG também acompanhou a 20ª edição do evento. Assista ao vídeo: