Tão longe, tão perto: Extensão estreitou laços com a sociedade durante o isolamento
Atividades foram adaptadas para enfrentar a Covid-19 e suas consequências; tecnologias de comunicação são aliadas no relacionamento com os públicos
Na segunda quinzena de março, a Pró-reitoria de Extensão da UFMG publicou, em sua página, medidas relacionadas ao enfrentamento ao novo coronavírus, como a suspensão das atividades presenciais. A partir de então, os programas e projetos da Universidade lançaram-se no desafio de combater a Covid-19 e suas graves implicações sanitárias, econômicas e sociais.
Coordenadores, professores, pesquisadores e estudantes adaptaram seus planos de trabalho para a atuação de forma remota. Após dois meses, a sociedade se surpreende com iniciativas que surgem e se avolumam nas áreas da saúde, direitos humanos, divulgação científica, na programação cultural, na oferta de cursos.
De acordo com a pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, mesmo em necessário período de recolhimento, a extensão da UFMG não parou e se aproximou ainda mais da sociedade. “Houve reestruturação dos processos de trabalho em grande parte das atividades e uma repentina emergência de ações com qualidade e alcance social”, destaca.
Tecnologia como aliada
Para alcançar as comunidades, a UFMG encontrou nas tecnologias formas de se relacionar e dialogar com públicos diversos. “As tecnologias de comunicação não apenas permitiram viabilizar iniciativas e atingir objetivos específicos, como também se tornaram aliadas de primeira ordem. A UFMG tem respondido de forma rápida às demandas apresentadas pela sociedade, embora os desafios sejam muito grandes”, destaca Claudia Mayorga, lembrando que, entre os desafios, estão a inclusão digital e a democratização do acesso às ferramentas digitais. “A inclusão digital não é uma realidade para toda a população – dentro e fora da UFMG –, e não podemos desconsiderar esse problema nas políticas e ações que planejamos implementar”, argumenta.
No início do isolamento social, a Proex convidou toda a comunidade a propor atividades alternativas que pudessem ser desenvolvidas a distância. Foram recebidas, até o momento, cerca de 70 contribuições de coordenadores, bolsistas, voluntários, diretores, professores, estudantes e pessoas da comunidade externa, que visam à prevenção da Covid-19 e ao enfrentamento da pandemia, com prioridade para grupos socialmente vulneráveis.
As atividades foram divididas em quatro eixos, segundo Claudia Mayorga: ações para colaborar com o isolamento social; ações para informar e tirar dúvidas, em diversas linguagens para distintos públicos, acerca da Covid-19; ações para serem desenvolvidas com grupos sociais vulneráveis e, por fim, ações focadas em profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia.
Protagonismo estudantil
O corpo discente tem exercido papel importante na viabilização das atividades. “Com todos os desafios impostos pelo trabalho remoto e as dificuldades de conjugar a vida, o tempo e o espaço doméstico com a atividade de extensão, os estudantes têm sido protagonistas e estão demonstrando que, sem solidariedade, não superaremos os efeitos da pandemia", avalia a professora.
Com o objetivo de avaliar desafios enfrentados pelos bolsistas, a Pró-reitoria de Extensão enviou, no início de maio, um questionário para os estudantes envolvidos em atividades de extensão para conhecer, com mais profundidade, como estão se organizando na realização do trabalho remoto, como tem sido o contato com as comunidades e instituições parceiras e as principais dificuldades. O objetivo é reunir sugestões que possam orientar futuras medidas e oferta de apoios.
Ações em rede
Cerca de 20 grupos, programas e projetos vinculados à Rede de Direitos Humanos mobilizaram-se recentemente para recomendar medidas concretas e emergenciais ao poder público, aos representantes de políticas públicas e à sociedade em geral. O objetivo é reduzir os efeitos da Covid-19 sobre a população em situação de vulnerabilidade, como as pessoas pobres e em extrema pobreza, trabalhadores informais e rurais, moradores de ruas, vilas, favelas, ocupações e assentamentos, negros, indígenas quilombolas e população LGBT.
A Rede Saúde Mental e a Comissão Permanente de Saúde Mental da UFMG implementaram projetos de acolhimento e plantão psicológico para atender à comunidade universitária, dentro e fora do país. O serviço também alcança os profissionais de saúde do Hospital das Clínicas e a comunidade externa à UFMG.
“A pandemia e todas as suas consequências não poderão ser resolvidas ou superadas por uma única instituição. Essa é uma situação, como tantas outras em nosso país, que exige o esforço de vários atores sociais e instituições articulados em rede. Para tanto, será fundamental superar as disputas e competitividade e fortalecer os laços de cooperação e solidariedade”, avalia Claudia Mayorga.
Integração inédita
Em meados de abril, a Proex, em parceria com a Pró-reitoria de Pós-graduação (PRPG), lançou edital de formação em extensão na pós-graduação, para conceder bolsas a estudantes de graduação e pós-graduação. A iniciativa, inédita no país, visa à seleção de propostas para o enfrentamento à pandemia, à integração entre pesquisa e extensão e à priorização de estudantes que ingressaram na UFMG pelas políticas de ação afirmativa.
“O edital, além de colocar em prática a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, reconhece, mais uma vez, que precisamos nos preocupar com uma formação que não se limita aos aspectos técnicos das áreas do conhecimento, mas que promova o diálogo entre ciência e sociedade, contribuindo para a formação de estudantes, pesquisadores e profissionais que estejam comprometidos com a superação das desigualdades que caracterizam a sociedade brasileira”, observa a pró-reitora.
O lugar da extensão universitária
Em evidência, a extensão enfrenta outros desafios. Entre eles, segundo Claudia Mayorga, está a atuação que considere os cuidados sanitários e as medidas de isolamento social. “A atuação nos territórios e nos espaços das comunidades é uma importante característica da extensão, e é preciso pensar com muito cuidado como concretizá-la”, diz Mayorga.
Ela destaca ainda que a atual crise é sanitária, econômica e social. “As populações mais vulneráveis já são as mais afetadas, e a ciência e toda sua interface com a extensão universitária desenvolvem uma atuação estratégica neste momento. O mundo já não será o mesmo, e temos que lançar mão de muita criatividade para reconstruirmos e reinventarmos a universidade", defende.
O fortalecimento da dimensão dialógica da extensão, da relação ciência e sociedade e das políticas de cuidado são algumas das lições da pandemia, na visão da pró-reitora. “A democratização do conhecimento científico precisa ser uma realidade para toda a sociedade e não pode ficar restrita a grupos. Além disso, a pandemia exigiu o fortalecimento das políticas de cuidado. Elas foram historicamente menosprezadas e desqualificadas. Mas, agora, apresentam-se como uma necessidade ética e política emergencial”, afirma.
A Covid-19 também chamou a atenção para a importância das ações em rede, adotadas pela UFMG antes da eclosão da pandemia. “Os desafios não podem ser superados isoladamente. Precisamos derrubar as barreiras disciplinares, institucionais e entre saberes acadêmicos e não acadêmicos, unir esforços e formar agendas conjuntas para a cooperação e a solidariedade social”, conclui a pró-reitora Claudia Mayorga.
[Esta é a terceira matéria da série sobre as ações desenvolvidas por pró-reitorias e diretorias em meio à suspensão das atividades presenciais provocada pela pandemia do coronavírus. Nos próximos dias, serão focalizadas as pró-reitorias de Assuntos Estudantis, Graduação, Planejamento, Administração e Recursos Humanos, além da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica e as diretorias de Ação Cultural e Relações Internacionais. Já foram publicados relatos sobre as atividades das pró-reitorias de Pesquisa e de Pós-graduação].